BOHEMIA ANOS 50 VOL.1

Sou do tempo em que a Estação Ferroviária de Belo Horizonte cheirava a “Maria Fumaça”, pois viajar de trem para o Rio de Janeiro,
São Paulo ou interior de Minas Gerais era mais fácil, pois não havia estradas pavimentadas. Imaginem vocês, que ir para Ouro Preto
por estrada de terra em 1948 ou 1950 gastava-se de 4 a 6 horas de poeira, e solavancos. A opção era a charmosa “Maria Fumaça” ou “Cavalo de Ferro”
nome dado pelos índios americanos. Estudava naquele tempo no famoso colégio dom Bosco de cachoeira do campo, cidade vizinha Ouro Preto.
O colégio era quartel dos DRAGOES DAS MINAS GERAIS. La aprendi a traduzir o latim, a conhecer as fabulas de “La Fontaine” e estudar com
disciplina e a jogar futebol como Aberlado “flecha azul” atacante do Cruzeiro ou “Zé do Monte” do Atlético Mineiro.
Mas o que me encantava em Belo Horizonte naquele tempo era o aroma das flores dos jasmins que exalavam dos jardins das casas.
Nasci na Rua Guajajaras esquina com Rua Mato Grosso no Barro Preto.Era uma pequena chácara.Estudei na escola Delfim Moreira na Rua Espírito Santo.
O muro era de cipreste e a escola ainda esta do mesmo jeito em que foi construída.
Guardo com muito orgulho o diploma de minha formatura em 1942.
Após a adolescência a vida noturna tornou-se para mim prazerosa.
Os bares, os dancings me fascinavam. Ir ao MONTANHÊs na Rua Guaicurus, casa de dança e restaurante, conhecido em todo Brasil, de terno,
gravata e sapato lustroso, dançar com as “meninas” belas e cheirosas era um prazer. Havia no montanhês duas orquestras que revezava, uma tocava
bolero ou musica lenta a outra tocava musicas mais alegre. Pagava-se para dançar, as mesas bem postas ostentavam uma garrafa de “cavalo branco”.
Servia-se cerveja Brahma e salgados.Outro dancing era o “ALMANARA” que nos apelidamos de “PUXA FACA”, pois la teve uma briga violenta. O dono Sr. Elias Aramuni
era um libanês muito amável e cordial, o cliente não poderia ficar em pe, as mesas bem postas em volta do salão, onde um conjunto tocava musica variada.
Luiz era garçom e maitre.
Dançava-se, mas não tinha que pagar para as garotas. O restaurante “ALPINO” foi inaugurado pela primeira vez na Avenida Amazonas entre as ruas da Bahia
e Tupinambás, servia-se comida alemã. Na entrada havia vários vasos de samambaias bem tratadas, que dava ao restaurante um frescor salutar. A “CASA DO CHOPP”
também na Amazonas entre as ruas Tamoios e Afonso Pena, o chopp da Bhrama gelado com “colarinho” era de enlouquecer. O restaurante “TAVARES” inigualável na
cozinha de fogão a lenha, a paca, a leitoa e cabritos eram preparados com carinho. Freqüentado
por todas as classes sociais. Ficava na Rua Santa Catarina entre Tupis e Amazonas. O “lanterna azul” restaurante que ficava na Rua Manoel Macedo no bairro
lagoinha servia um peixe maravilhoso. Quando acabava as horas dançantes do Minas Tênis, Iate, Automóvel clube etc. os boêmios encontravam-se por la. Havia um
garçom de nome João que fazia a gentileza do restaurante. 40 anos depois me encontrei com o garçom João no restaurante “Scotelario” tendo ele me reconhecido pela
minha voz tonitruante e foi um encontro de sorrisos abraços e lagrimas.
O ”TIP-TOP” da D. Paula na Rua Espírito Santo entre Carijós e Afonso Pena, o chopp da Brahma, a maquina alemã de fazer sucos, a salsicha (do antigo Perrela)
com mostarda, era o toque do restaurante. Eu não sei como a D.Paula não foi à falência, pois bebíamos chopp à vontade sem controle nenhum, e na hora de pagar
a conta pagávamos sempre à metade do valor. Os barris de chopp eram de carvalho, sentávamos neles e o cheiro de cevada que exalava do bar, dava um ar de “taverna”
milenar e romântica.
A “Gruta Ok” famosa pelos tira gosto, o kibe frito, o ovo empanado, a cochinha de galinha, o chopp da Brahma bem tirado com ou sem colarinho era divino. A Gruta OK
teve inicio na Rua Tamoios entre a Rua Rio de Janeiro e Amazonas. A principio começou do lado esquerdo da Tamoios sentido Rua Rio de Janeiro, onde de segunda a
quinta-feira só servia cerveja no “casco verde”. De Sexta a domingo servia cerveja só no “casco escuro”. Naquele tempo as cervejas eram embaladas nestes dois
cascos, entretanto surgiu um boato de que as cervejas embaladas nos cascos verdes perdiam o gosto, dai ninguém queria beber cerveja no “casco verde”. O dono da
Gruta Ok para agradar a Gregos e Troianos optou por vender cerveja no “casco escuro” só nos fins de semanas. Mais tarde a Gruta Ok mudou-se de lado, foi para o
lado onde funciona o “Orfanato Santo Antonio”.
Na próxima edição estarei focalizando outros lugares pitorescos e charmosos de Belo Horizonte.